Família desestruturada, filhos desajustados

Itaí, 23 de Fevereiro de 2008.

O dicionário define família como "um conjunto de pessoas que vivem em comum, sob o mesmo teto; conjunto de pessoas do mesmo sangue ou parentes por aliança" (Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).

É na família que se dá o primeiro passo para um desenvolvimento emocional sadio e equilibrado. A família exerce uma poderosa influência sobre a formação das mentes e atitudes de seus membros. É fonte de variantes emocionais como frustração e/ou satisfação e outras reações emocionais.

Inúmeras são as situações no meio familiar que podem levar a distúrbios de personalidade da criança: dependência de drogas e álcool, traições, separações, agressividade, intolerância, maus-tratos, mães ou pais ausentes ou negligentes, transtornos psiquiátricos dos pais, rigidez social, falecimento, conduta sexual não usual dos pais, desentendimentos constantes entre os pais, disciplina severa ou demasiadamente exigente, lares desfeitos, abandono afetivo, psicológico, intelectual ou moral entre outras.

Viver com ou conviver não significa apenas dividir o mesmo espaço ou distribuir tarefas, é preciso conduzir sadiamente e afetivamente essa relação de poder familiar com dignidade.

O exercício do afeto entre os membros de uma família é prática primeira de toda educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos necessários nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de autoproteção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção em dose certa é elementar no processo evolutivo e formativo do ser humano.

Se os filhos (não importa a classe baixa, média ou alta) estão com comportamentos desviados do “normal”, algo está errado. Esses filhos “desviantes” e “diferentes” são produzidos pelos problemas que essas famílias passam. As famílias por outro lado acabam culpando seus filhos e culpando-se, acreditando em deficiências psicológicas e morais.

A família desajustada, desestruturada e desarmônica, com pais sem capacidade de formar bem o caráter dos filhos, está intimamente relacionada com o comportamento desajustado destes.

Pais que foram moral e tradicionalmente bem formados dentro de uma linha de disciplina pedagogicamente correta, com harmonia, entendimento entre pai e mãe e entre pais e filhos, dificilmente se verificará nos filhos desvios para os caminhos das drogas, álcool, desonestidade, prostituição, marginalidade ou criminalidade.

Autores como Bush, Ballard, Femouw (1995) ressaltam os efeitos negativos de condições de risco no meio familiar, salientando que “famílias mal constituídas, desestruturadas, sem limites claros, vivendo em ambientes marginais, favorecem no pré-adolescente a formação de uma baixa auto-estima, acompanhada por sentimentos de inferioridade e incapacidade, insegurança, falta de controle emocional e comportamental, baixa tolerância à frustração, baixas metas educacionais, entre outras características negativas, intensificando-se a vulnerabilidade do sujeito ao desenvolvimento de comportamentos de risco e desajustados”.

Proponho algumas dicas para manter uma convivência familiar saudável: Não seja excessivamente crítico com seu filho, não o humilhe (principalmente em público), evite rótulos negativos, saiba elogiar, procure conhecê-lo; seus gostos, seus amigos, sua escola, suas matérias favoritas, suas dificuldades. Procure ficar sempre do lado dele, ouvi-lo, compreender suas idéias.Auxilie, aconselhe, procure ajuda se necessário. Não imponha soluções que você julgue como verdadeiras, procure compreender suas angústias e frustrações; respeite seus desejos e escolhas, dê liberdade para isso, ofereça autonomia, dê chance para ele tornar-se responsável e adquirir auto-estima. Seja honesto, confiante para gerar confiança. Leia livros, participe, aprenda com seus filhos, fale sobre sentimentos, experiências e emoções como medo, tristezas, amor e morte. SEJA PAI OU MÃE – CRIE ESSE VÍNCULO – Não seja permissivo demais ou agressivo demais, discuta sobre poder, estabeleça regras amistosas (como o uso da TV, Internet e Videogame), negocie, seja verdadeiro e não tenha medo de ser firme.

Assim você terá uma chance de formar mentes e lares seguros, verdadeiros, dignos e honestos.



Mariângela Scarton – Psicanalista & Pedagoga
e-mail: mscarton@gmail.com

Comentários

Anônimo disse…
Voce fez umas colocações otimas,esse texto deve ser enviado como uma corrente muitos que o lerem vão saber se colocar e quem sabe mudar um pouco o comportamento.
Francisco
Anônimo disse…
Muito bom o texto. Considero que em todas as escolas deveria dispor de atendimento psicologico tanto para o aluno necessitado quanto para a familia. A escola, acredito eu, poderia ser de grande ajuda para minimizar o sofrimento familiar causado pela desestruturacao principalmente pelo alcool, que adoece a familia toda.
celeste Bottrel Baptista disse…
Muito bom o texto. Considero que em todas as escolas deveria dispor de atendimento psicologico tanto para o aluno necessitado quanto para a familia. A escola, acredito eu, poderia ser de grande ajuda para minimizar o sofrimento familiar causado pela desestruturacao principalmente pelo alcool, que adoece a familia toda.
Celeste Bottrel Baptista